Escritos de uma lésbica escura
Yuderkys Espinosa Miñoso
Tradução Caroline Marim e Susana de Castro. Ape’ku, 2022.
Yuderkys Espinosa Miñoso figura, ao lado de María Lugones, como uma das pioneiras entre os principais nomes do feminismo decolonial (BUARQUE, 2020), movimento feminista latino-americano que entende que gênero não pode ser analisado sem as questões étnica e racial e desde uma perspectiva da história do capitalismo e da colonização das Américas.
Os textos aqui reunidos não versam, entretanto, diretamente sobre questões teóricas do feminismo decolonial. Os ensaios aqui reunidos foram escritos ao longo de quase uma década, de 1997 a 2006. Apesar de só estarmos publicando a tradução desses ensaios agora, passados quase vinte anos, o livro, ao longo desse período, circulou entre as ativistas feministas brasileiras em cópias em espanhol. Eles expressam a adesão de Yuderkys ao feminismo pós-estruturalista de Judith Butler e Luce Irigaray, mas também a sua descoberta dos impasses e incongruências desses feminismos para pensar as questões do feminismo lésbico e negro e, portanto, o seu caminho em direção ao feminismo decolonial, latino-americano e caribenho.
Ler os escritos e reflexões de Yuderkys é um convite para revermos nossa história feminista e de luta social, como no capítulo sobre o V Fórum Social Mundial, que teve algumas de suas edições em Porto Alegre, no qual ela já aponta o afastamento das demandas coletivas localizadas na América Latina para “demandas” ou agendas globais, cuja sede é mais propriamente os Estados Unidos da América do Norte. Este cenário pode ser tranquilamente percebido por quem participou das primeiras versões do Fórum e viu seu aumento de tamanho ser proporcional ao esvaziamento de troca e debate, como aponta a autora.